Hoje, qualquer pessoa com um dispositivo móvel é capaz de capturar os mais variados tipos de imagens e imediatamente compartilharem com outras milhares ao redor do mundo. Surreal, não é mesmo?
Me lembro perfeitamente, em 2001 - 14 anos atrás (recente, não?) - estava num intercâmbio em Londres sem celular, muito menos um que tivesse uma câmera fotográfica embutida e muito menos ainda que pudesse compartilhar com os amigos e familiares as fotos tiradas daquele exato instante. Fui para lá com uma máquina simples, daquelas que colocava rolo de filme, lembram?! O ângulo tinha que ser bem escolhido para não "gastar o filme", porque custava caro e ainda tinha que revelar. Aliás, esta viagem à Londres foi a última vez em que me dediquei a montar um álbum fotográfico, com todas as fotos reveladas e lembranças dos lugares visitados. Uma pena, porque agora os álbuns são só virtuais, sempre esqueço de revelar.
Pouco tempo depois, minha mãe comprou a nossa primeira máquina digital (Uauu), sensacional, que tecnologia! Podia tirar quantas fotos quisesse, sem me preocupar em "gastar o filme" e depois era só baixar no computador. E desde então essa evolução vem nos surpreendendo a cada dia.
Claro que este breve relato é referente a minha experiência com uma máquina fotográfica na mão diante dessa revolução que é o mundo tecnológico e virtual. E então comecei a me questionar: e antes de 2001, muito antes, como as imagens eram capturadas? Quando isso começou? Quem foram as pessoas que tiraram aquelas fotos icônicas que rodaram o mundo? Onde eles estavam? Por que escolheram aquele momento? São tantas as perguntas, são vários rolos de filmes e muita história para contar.
Há pouco tempo ganhei um livro que me despertou essa curiosidade - 50 PHOTO ICONS, The Story Behind the Pictures - publicado pela Taschen e organizado pelo autor Hans-Michael Koetzle, um escritor, curador e historiador de fotografia.
Resolvi responder às minhas perguntas compartilhando as descobertas que este livro me trará, tenho certeza que serão prazeirosas e reveladoras.
Este livro apresenta fotos ícones ao longo de 180 anos, em ordem cronológica, à partir de 1827 até 2001. E que de certa forma contribuíram na evolução da arte da fotografia, seja pela tecnologia, estética ou relevância social.
Iremos mergulhar na história por detrás da imagem, fantástico, não é mesmo?!
Estou ansiosa, vamos começar?
Analisando o livro, sob a minha ótica, preferi começar pela mais atual, que é o que estamos acostumados a ver para então entender as mais antigas. Afinal de contas, muita coisa mudou em 180 anos.
Gostaria de ressaltar que não sou fotógrafa profissional e nem historiadora, mas sou muito curiosa e isso é o que me motiva. Ficarei mais do que feliz e grata em receber contribuições que enriqueçam a nossa aventura.
Foto: View of Manhattan from Williamsburg, Brooklyn
Autor: Thomas Hoepker
Data: 11 de setembro de 2001
Esta data dispensa comentários, foi um dos eventos mais falados, documentados, transmitidos e fotografados do século 21, até o momento. O 11 de setembro está na memória de todos, qualquer pessoa que você perguntar o que estava fazendo na hora do ataque irá com certeza se lembrar. Eu por exemplo, estava voltando do trabalho onde era estagiária de uma cia. aérea num aeroporto, ouvindo o rádio e não conseguia acreditar no que estava sendo anunciado.
O fato é que esta data foi um divisor de águas na era da tecnologia e transmissão, porque o mundo ainda estava assistindo as notícias relativas ao primeiro ataque, quando presenciaram ao vivo o segundo ataque. Os terroristas previram essa audiência estratosférica e conseguiram o feito. Todos os meios de comunicação queriam mostrar aquela atrocidade, foi uma enxurrada de vídeos e fotos. Amadores e profissionais do fotojornalismo correram às ruas para capturar qualquer imagem que fosse, incluindo esta que vemos de Thomas Hoepker, umas das mais perturbadoras.
Thomas Hoepker é alemão e mora em Nova Iorque desde 1989, trabalhou muitos anos para a revista alemã Stern como fotojornalista e é membro da Magnum - cooperativa de fotógrafos de vários lugares do mundo que cobriram várias acontecimentos históricos à partir do século 20.
"Eu tinha acabado de sentar para tomar café da manhã quando o telefone tocou, era a diretora editorial da Magnum (Rebecca Ames), estava me ligando cerca de 5 minutos depois do primeiro avião atingir as torres gêmeas. Ela morava no Brooklyn e acabara de ver a fumaça pela sua janela. Ela estava apavorada. De certa forma não consegui acreditar no que ela me disse. Liguei a televisão e quando vi as imagens me dei conta do quão real era. Virei testemunha do segundo ataque e por um momento me senti totalmente impotente, não sabia o que fazer, sentei em estado de choque e pensei, o que fazer agora? Apesar de ser um fotojornalista e querer correr para a rua tirar fotos, não pude deixar de pensar que era errado e não era o momento de fazer aquilo, era tudo tão horroroso. Vendo que a televisão monopolizava a transmissão ao vivo, o que eu faria na rua com uma máquina 35 mm para registrar imagens paradas? Mas o profissional dentro de mim falou mais alto e me dei conta que era preciso fazer algo, eu precisava sair e tirar fotos."
O metrô já não estava mais funcionando, o carro era a única opção, porém já era sabido que seria praticamente impossível chegar até o centro de Manhattan. Ele decidiu atravessar a Ponte de Queensboro, o que na verdade era um erro porque não conseguiria chegar até lá. A maioria de suas fotos foram tiradas do Brooklyn e andando pela Ponte de Manhattan. Thomas Hoepker se tornou uma relutante testemunha à distância do 11 de setembro.
Esta foto dos jovens americanos conversando e relaxando com as Torres Gêmeas queimando e desmoronando ao fundo se tornou uma das fotos mais conhecidas de Thomas Hoepker. Porém esta foto não foi imediatamente publicada nos livros e revistas daquele ano. Na verdade, o fotógrafo relutou em tornar esta foto pública porque sabia que seria alvo de críticas, a contradição estampada na imagem, do apocalipse acontecendo e o momento de relax em que estavam estes jovens.
Mas o que Thomas Hoepker estava tentando retratar através dessa imagem é a grande loteria que é vida, conhecida como destino, que garante que diferentes coisas aconteçam ao mesmo tempo por razões que são difíceis de compreender. E o grande desastre dessa tragédia distante é a certeza de que de algum lugar confortável, a sociedade da mídia moderna, tem na desgraça do outro um aterrorizante estimulador de emoções para o consumo dessas imagens. Perturbador, não é mesmo?
Outras fotos de Thomas Hoepker no 11 de setembro:
Este livro pode ser adquirido aqui:
Nenhum comentário:
Postar um comentário